Peças foram apresentadas pela primeira vez na Feira Nacional do Tricô.
Monges intercalam costura das roupas às atividades monásticas diárias.
Retalhos, linhas e aviamentos fazem parte do trabalho diário de sete dos 49 monges que vivem no Mosteiro da Santíssima Trindade, em Monte Sião (MG) e trabalham no ofício de costura do local, onde foi criada e lançada a grife ‘Afeto’. Por mês, 50 peças entre vestidos, jaquetas, blazers e casacos são feitas e neste ano, pela primeira vez, elas foram levadas ao desfile de abertura da 38ª Feira Nacional do Tricô (Fenat) e também colocadas à venda em uma espécie de show room dentro do próprio mosteiro. “Nossa inspiração vem do Espírito Santo, já que cada peça fica de um jeito e elas vão sendo criadas na hora. Quando começamos, não sabemos sequer o que vai ser. É como montar um quebra-cabeça de retalhos e que no final se transforma em uma roupa. É muito gostoso ver as peças prontas ”, contou a irmã Virgínia Aparecida do Menino Jesus, que está no mosteiro há 13 anos e foi quem teve a ideia de reaproveitar os refugos para criar as peças. A matéria-prima das roupas são os retalhos doados pelas confecções de tricô existentes na cidade. Cada peça é única e leva no mínimo três dias para ficar pronta, já que o ofício da costura é inserido na rotina de cinco orações diárias, atendimentos ao público e afazeres como limpeza e alimentação praticados pelos monges.
Como a cidade de Monte Sião é considerada um polo de tricô com 1,5 fabricantes especializados e com a feira anual para exposição de novas peças e tendências, os monges quiseram se inserir no perfil econômico da cidade. Em cada roupa feita por eles, uma etiqueta vem fixada, com informações sobre a exclusividade da roupa e o conceito do mosteiro. Virgínia se lembra que há dois anos foi confeccionado o primeiro casaco, em meio ao ofício que já existia e fabricava os hábitos usados pelos monges. “Eu peguei os retalhos e resolvi montar, então vi que ficou legal a montagem e começamos a pensar em fazer as peças, mas, no início, elas eram mostradas apenas aos conhecidos. Não imaginávamos que surgiria a grife”, acrescentou.
Segundo a irmã Lúcia de Jesus Cruxificado, a grife vai justamente ao encontro do que é praticado diariamente por eles. “O nome da grife inclusive surgiu com base no que vivemos, porque o afeto está muito ligado ao amor, a prática do bem, aos momentos de oração e trabalho, ou seja, queremos passar também o conceito de viver e trabalhar com amor e o afeto é a maneira mais acessível”, destacou. Para a criação das roupas o único investimento feito é para a compra de cetim, que serve de forro para as peças, o que, segundo os monges, é uma forma de incrementar os produtos e garantir mais qualidade e também para compra de pedrarias, que enfeitam as roupas. “Nossa capacidade de produção é pequena, mas queremos fazer peças cada vez melhores”, pontuou Virgínia.
“O novo mosteiro já está sendo feito e vai abrigar mais monges e aspirantes. Atualmente vivemos em um espaço que é improvisado e por isso nos dedicamos a ações e trabalhos para arrecadação e construção de um local próprio”, contou irmão Sílvio Lobato.O dinheiro obtido com a venda das peças – que variam de R$ 150 a R$ 490 – é revertido para a construção de um mosteiro maior, que deve abrigar mais monges e já começou a ser feito em um local próximo ao atual. Ainda de acordo com ele, a venda de outros produtos em uma lojinha dentro do Mosteiro também acrescenta à arrecadação. São comercializadas trufas, pães de queijo, linguiças, bolachas e peixes.
O Mosteiro da Trindade
O Mosteiro Santíssima Trindade é tido como um dos maiores em número de monges professos do Brasil. Atualmente 49 religiosos – homens e mulheres – dividem as atividades diárias e ficam separados em suas clausuras no Mosteiro. Há também oito aspirantes a monges no local. “Somos uma comunidade de homens e mulheres consagrados a Deus, formando uma Koinonia, palavra de origem grega que significa ‘comunhão’”, disse o irmão Sílvio Lobato.
A manutenção do mosteiro é garantida pelo trabalho dos monges que dedicam-se à pesca, horta orgânica, venda de artigos religiosos, trufas, cookies, pães de queijo, pelas de decoração e agora o tricô feito com retalhos. O dinheiro arrecadado será utilizado também na construção de um novo mosteiro, que já começou a ser feito. Os monges celebram também missas às segundas-feiras, quartas-feiras e domingos, além de atendimentos e aconselhamentos espirituais às segundas-feiras, quintas-feiras e sábados. O trabalho dos monges e os horários das atividades é divulgado e atualizado no site www.mongesdatrindade.org.br.
Atualmente Minas Gerais é considerado o 2º produtor brasileiro de malha retilínea e detém 20% da produção brasileira. Deste total, 40% são gerados por Monte Sião que é conhecida como a capital da Moda Tricô.Fenat e polo de tricô em
Monte Sião
Neste ano, a Fenat acontece entre 30 de maio a 16 de junho e lança as novidades e tendências para o inverno 2013. As peças apresentadas são em malha retilínea e durante todo o evento são esperadas 60 mil pessoas. O título vem especialmente pelo reflexo da imigração italiana na região, o que fez com que a indústria de malhas crescesse e se tornasse o principal segmento de impacto econômico e social da cidade. Por mês são feitas três mil peças de tricô e cerca de 7,5 mil pessoas são empregadas pelo setor.
Serviço – A Feira Nacional do Tricô (Fenat), acontece até o próximo dia 16 de junho no Centro de Exposições e Lazer, localizado à Avenida das Fontes, s/n, no bairro Magioli em Monte Sião (MG). (portal G1)
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