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quinta-feira, 22 de maio de 2014

Estado e Município provocam dano ambiental no Caminho da Fé

Segundo os peregrinos, a vista da cidade é um convite para uma pausa: Foto Paulo Medeiros
Segundo os peregrinos, a vista da cidade é um convite para uma pausa
O Estado de Minas Gerais e o Município de Andradas estão entre os principais agentes causadores da devastação ambiental que vem ocorrendo no Caminho da Fé, na localidade conhecida como rolador, na Serra do Caracol, no bairro dos Pinheirinhos. Durante o período de obras de construção do gasoduto entre Jacutinga e Poços de Caldas, executadas em 2009, pela construtora Egesa, contratada pela Gasmig, o entulho de pedras, retirado das explosões realizadas na encosta do rolador foram jogados ladeira abaixo provocando diversas faixas de deslizamentos da mata ciliar, na margem direita do ribeirão Caracol.

Em agosto passado, a Rizal, empresa contratada pela Cemig, cortou árvores de grande porte, na mesma localidade, sob a alegação de que colocavam em risco a rede de eletrificação rural. Muitas das árvores derrubadas estavam distantes da fiação elétrica como pode-se observar ainda hoje. Em setembro foi a vez da Prefeitura de Andradas jogar o entulho retirado do serviço de alargamento das estradas dos bairros Pinheirinhos e Angola, provocando novos deslizamentos de terra naquela encosta.

Há décadas, o rolador tem servido também como depósito de lixo dos moradores do bairro e vizinhança, inclusive da cidade. Encoberto pela mata, o lixo era pouco visível para quem passasse pelo local. Atualmente, devido ao desmatamento e a erosão do terreno, o lixo se tornou mais evidente, agravando a degradação por que passa a Serra do Caracol. No início da década passada, o então promotor de justiça de Andradas, Nivio Previato, moveu uma ação contra a Prefeitura Municipal e alguns proprietários rurais que divisam com a área afetada, por dano ambiental provocado pelo lixo jogado naquela localidade.


Com a colaboração de um grupo de ambientalistas e suporte de funcionários municipais, o prefeito na época, Wilkye Veronese, retirou parte do lixo não degradável e instalou placas de advertência ao longo da margem da estrada, indicando o local como Área de Proteção Permanente-APP, alertando os possíveis infratores da responsabilidade penal disposta na lei federal sobre o Meio-Ambiente. 

Durante um período de aproximadamente dois anos, após essas medidas, o depósito de lixo na encosta diminuiu sensivelmente. Passada essa trégua, as placas foram destruídas e o lixo voltou a ser jogado no local como se nada houvesse acontecido.

O deslizamento da encosta na Serra do Caracol está colocando em situação de perigo não somente a flora local, como também os motoristas que trafegam pela estrada dos Pinheirinhos. Na noite do sábado, dia 10, um cafeicultor do bairro capotou sua caminhonete 4x4, de fabricação recente, em um trecho reto da estrada, parando uns trinta metros abaixo, próximo à margem do Caracol. O motivo deste acidente foi, segundo o motorista da caminhonete, provocado pela erosão da estrada naquele trecho após o corte das árvores efetuado pela Cemig, que dava sustentação à margem do caminho. O cafeicultor felizmente saiu ileso do acidente, mas a caminhonete ficou totalmente destruída.

O Coordenador do Meio-Ambiente da prefeitura, Paulo Nhola, disse por ocasião do corte das árvores que essas empresas que prestam serviços para as companhias estatais já vem com as licenças ambientais prontas de Belo Horizonte, e que o município não é consultado sobre a decisão tomada antecipadamente na capital do Estado.

Distante a uns três quilômetros, aproximadamente, do centro da cidade, o bairro dos Pinheirinhos é habitado por mais de uma centena de moradores, localizados principalmente no boqueirão do Caracol, que se dedicam às atividades da lavoura do café e à criação de gado bovino. De uns anos para cá o bairro entrou na rota do Caminho da Fé, sendo percorrido em toda a sua extensão pelos peregrinos vindos da cidade de Águas da Prata, com destino ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida.

Na opinião de muitos romeiros, que já fizeram o caminho por mais de uma vez, o trecho de Andradas é um dos mais bonitos do percurso, comparável apenas ao de Luminárias, próximo a Campos de Jordão. O local apontado pelos caminhantes como um dos mais belos da romagem fica justamente na saída sul do rolador, de onde se avista em panorâmica privilegiada, a cidade de Andradas lá embaixo, emoldurada pelo seu ondulante contorno de montanhas azuis. A paisagem dali é irresistível, convidando o peregrino para uma pausa repousante, na dura caminhada, e uma foto de cartão-postal como lembrança.

No ano passado, alguns vereadores sugeriram o plantio de flores nas margens do Caminho da Fé. A intenção é boa e, será melhor ainda, se além de flores o projeto contemplar a encosta, ambientalmente afetada, com o replantio de árvores nativas e a retirada do lixo, que já não mais se esconde, sob o tapete verde da Mata Atlântica.    fonte: Portal de Andradas  Texto e fotos: Paulo Medeiros (Reg. prof. 26845-Mtb-RJ)

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